Esta dissertação investiga como o racismo e o sexismo afetam a saúde mental de mulheres negras no ensino superior, a partir de uma perspectiva interseccional que compreende o racismo como estruturante das relações sociais. O objetivo é analisar como essas opressões, vivenciadas cotidianamente ao longo de suas trajetórias, impactam seus projetos de vida e processos de adoecimento, afastando-se de uma concepção medicalizante e individualizante da saúde mental. A pesquisa, de natureza qualitativa, combinou análise documental e entrevistas com estudantes negras do Centro de Ciências Humanas e Letras (CCHL) da Universidade Federal do Piauí, campus Ministro Reis Velloso. A análise foi construída a partir de teóricos que discutem racismo, gênero e saúde mental. Os resultados mostram que a experiência das estudantes é permeada por diversas violências e microagressões racistas e sexistas. A descoberta mais importante da pesquisa revela um paradoxo: embora as participantes narrem inúmeros episódios de discriminação, há uma dificuldade em conectar explicitamente esse racismo vivenciado aos desgastes mentais sofridos, evidenciando, portanto, como racismo age de forma tão profunda e naturalizada na sociedade, a ponto de não ser percebido os desgastes mentais que provoca. Conclui-se que a saúde mental das mulheres negras está intrinsecamente ligada ao enfrentamento do racismo e do sexismo. A universidade, portanto, precisa implementar políticas de acolhimento e cuidado que reconheçam essa dimensão, criando espaços que permitam a nomeação e a superação dessas violências