As certificações voluntárias de Iniciativas Sustentáveis Multi-stakeholders (MSIs) destinadas a regular e equilibrar as condições econômicas, sociais e ambientais que envolvem o binômio consumo e produção, cresceram nos últimos anos. Neste cenário, a certificação Fairtrade (FT) tem se destacado como uma certificação MSIs robusta e sustentável nas redes agroalimentares internacionais, com a proposta de reconectar consumidores e produtores, “humanizar” o comércio internacional, se contrapondo ao modelo convencional que visa somente o lucro e a competição. O FT se conecta aos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) e no tocante ao Comércio Internacional, ele busca promover um comércio equitativo para os produtos oriundos do Sul Global, especialmente os das cooperativas e associações de pequenos produtores, facilitando o acesso aos mercados internacionais. Contudo, este comércio internacional apresenta barreiras de acesso como as tarifárias e não-tarifárias que impactam o fluxo de comércio entre os países. Considerando os novos paradigmas presentes no comércio internacional como a existência das chamadas “barreiras verdes”, a sustentabilidade passa a ser questionada nas principais agendas internacionais para o alcance de um comércio internacional justo, sustentável e equitativo. Todavia, considerando o lapso da retórica global em focar apenas nos princípios e benefícios da certificação FT sem examinar as realidades locais, torna-se relevante a compreensão das limitações presentes no processo de adoção do FT, manutenção e sua influência, principalmente para as cooperativas do Sul Global, considerando a condição histórica de desigualdade imposta pelo sistema capitalista global, de acordo com a Teoria da Dependência. Nesse contexto, esta pesquisa apresenta os seguintes questionamentos: 1) Quais são as principais barreiras para adoção e manutenção da certificação Fairtrade? (2) Quais motivações permeiam a adoção do Fairtrade, para além de uma estratégia de comercialização? (3) Como o Fairtrade impacta no acesso aos mercados internacionais? Assim, esta pesquisa tem como objetivo investigar e identificar as principais barreiras e facilitadores da certificação Fairtrade na construção da sustentabilidade. Em termos específicos, se propõe a compreender a influência da certificação no acesso aos mercados internacionais; investigar os fatores (motivações) que influenciam a adesão ao Fairtrade e identificar as vantagens econômicas, sociais e ambientais advindas com a obtenção da certificação. Para isto, considera-se que a sustentabilidade passa a ser também um conceito global, contemplando fatores diversos e não lineares, como as dimensões culturais e institucionais e o esgotamento dos recursos naturais, sendo com isso, compreendida para além do Tripé das suas dimensões econômica, social e ambiental (Triple Bottom Line +). Nessa lógica, esta pesquisa se volta tanto para a compreensão do impacto das barreiras que se apresentam no acesso aos mercados internacionais, como a identificação das barreiras para adoção e manutenção da certificação FT. Para o alcance dos objetivos, optou-se pelo método qualitativo de estudo de caso múltiplo e foram selecionadas três cooperativas agrícolas brasileiras certificadas FT, duas que produzem mel e uma que processa castanha de caju. Serão realizadas entrevistas semiestruturadas com os gestores e presidentes das cooperativas e consultores do SEBRAE/PI. Esta pesquisa é exploratória e utilizará fontes primárias e secundárias para a compreensão do fenômeno investigado. A coleta de dados seguirá os princípios definidos por Yin (2018) e Stuart et al. (2002). Ocorrerá também a análise de documentos internos e anotações no diário de campo e será também empregada a observação não participante. Os dados serão analisados usando a abordagem do raciocínio indutivo, com o auxílio do software Atlas.ti. Os resultados desta pesquisa podem enriquecer o conhecimento empírico ao introduzir novos elementos na compreensão do fenômeno Fairtrade na construção da sustentabilidade, especialmente considerando a experiência pouco explorada das cooperativas analisadas e os novos paradigmas sustentáveis no comércio internacional, uma vez que a literatura se concentra majoritariamente nas culturas FT de café, flores, chá e chocolate. Este estudo também traz insights valiosos para outras cooperativas que buscam a certificação FT. Ademais, ele oferece reflexões importantes sobre as especificidades do FT para acadêmicos, formuladores de políticas públicas, gestores, consumidores e demais stakeholders.