As transformações oriundas da implantação do SUS suscitaram a busca por uma estratégia prática de reorganização da Atenção Primária à Saúde (APS), também reconhecida como Atenção Básica à Saúde (ABS), em que a busca por integralidade gerou um processo de complexidade crescente da assistência, o que solicitou aos gestores papel fundamental para que as ações e serviços ofertados, sobretudo pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), funcionem como instrumento de mudança e/ou reorientação do modelo assistencial possibilitando a integralidade das ações de saúde. O presente estudo tem como objetivo analisar os desafios e perspectivas da gestão da Atenção Básica no município de Teresina – Piauí. Para tanto, a pesquisa realizada foi de natureza descritiva e analítica, pois buscou descrever e analisar o fenômeno estudado, a partir de uma abordagem qualitativa e utilizando como instrumento de coleta de dados entrevistas semiestruturas. Os sujeitos da pesquisa foram 04 coordenadores de UBS e, em instância superior, o gestor da Atenção Básica do município, os quais foram ouvidos e expuseram as suas reflexões e posicionamentos. Depois de transcritos e submetidos à análise, os dados colhidos a partir das entrevistas foram categorizados e analisados à luz da discussão teórica dos principais estudiosos da temática e o material levantado foi ponderado por meio da análise de conteúdo, proposta por Bardin (2011). Pode-se analisar que a gestão das UBS está pautada num modelo de gerência tradicional, com presença da racionalidade gerencial hegemônica, apesar de algumas ações apontarem na direção na subjetividade, utilizando-se de tecnologias leves, sugestivas de perspectivas de mudanças. Quanto aos desafios enfrentados na gestão da ABS foi possível identificar que estão relacionados ao subfinanciamento, gerador de sobrecarga ao ente municipal; à grande quantidade de demanda e falta de suporte da atenção secundária, sobretudo no tocante às consultas com especialistas; à gestão dos recursos humanos, relacionada à falta de profissionais com perfil para gerenciar e atuar no SUS, ainda utilizando tecnologias duras e voltados para o modelo hospitalocêntrico; ao incipiente controle social, marcado pela ausência de participação da população na implementação e fiscalização da Política de Saúde e por fim, a deficiente formação do próprio gestor, evidenciado no fato de assumirem o cargo por meio de indicação política e de a maioria não ter experiência prévia no setor saúde ou na gestão e não realizarem cursos para capacitação e aperfeiçoamento profissional. Apesar das dificuldades elencadas, os gestores fazem uma avaliação positiva da saúde municipal e apresentam perspectivas de enfrentamento aos problemas e atuação voltada para melhoria do acesso e da qualidade. Compreende-se, portanto, que as possibilidades de sucesso das estratégias organizativas do setor vinculam-se à capacidade de gestão que deve aprimorar competências técnicas e administrativas na prática profissional, articulando com os diversos atores sociais e compartilhando a gestão de forma democrática e participativa.