Esta dissertação analisa a atuação de lideranças femininas bolsonaristas na Câmara dos Deputados (2019–2023), com foco na formulação e apoio a projetos de lei que tensionam os direitos das mulheres, das pessoas LGBTQIA+ e de demais grupos vulnerabilizados. A pesquisa parte da hipótese de que o Legislativo brasileiro tem sido um espaço privilegiado de consolidação das contrarreações conservadoras, operadas sobretudo por meio de uma retórica moralizante e excludente, cuja expressão mais visível encontra-se na atuação de parlamentares alinhadas ao bolsonarismo. Adotou-se abordagem qualitativa e análise de conteúdo documental, com base em proposições legislativas, votações e discursos de quatro deputadas federais: Carla Zambelli (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Chris Tonietto (PL-RJ) e Julia Zanatta (PL-SC). A análise empírica revelou um padrão articulado de ofensiva ideológica contra a agenda de gênero e direitos humanos, materializada em projetos como o PL 2125/2021, que visa censurar materiais sobre sexualidade nas escolas, e o PL 434/2021, que propõe a revogação de exceções legais ao aborto. Essas lideranças, embora mulheres, não promovem a representação substantiva de seu grupo, atuando como vetores de uma política de gênero regressiva e funcional à consolidação de um projeto autoritário, sexista e cristão-conservador. Conclui-se que a nova direita brasileira se apropria da linguagem dos direitos para esvaziá-los, instrumentalizando o Legislativo como arena estratégica de regressão civilizatória.