O presente trabalho analisa as novas formas de escrever literatura e as disputas canônicas presentes
nesse processo, através da obra e do sujeito Herculano Moraes, cujo tempo de maior produção
intelectual ocorreu na segunda metade do século XX, especialmente entre as décadas de 1960 e 1990.
Assim, no tempo histórico proposto, as mudanças literárias atravessavam a narrativa de diversos
escritores e podiam ser sentidas em distintas regiões do país, a exemplo do Piauí. A geração de
Herculano Moraes também propunha debates sobre os rumos da literatura, empenhando-se na
fundação de movimentos culturais e fundação de clubes literários, a exemplo da OBE-PI, com o fim de
engajar discussões artísticas no estado. Essa delimitação temporal foi determinada por ser o período
em que Herculano Moraes escreveu e publicou seus três livros de maior destaque para a pesquisa – A
nova literatura piauiense (1975), Visão histórica da literatura piauiense (1999) e Vozes sem eco
(1967) –, bem como colaborou nos jornais da cidade, entre eles o Jornal do Piauí e O Dia. Como
aporte teórico-metodológico, a pesquisa se insere no campo da história cultural. Nessa perspectiva
constrói-se o objeto, aborda-se o sujeito Herculano Moraes e realizam-se a leitura e a interpretação das
fontes. Na localização e análise das polêmicas, utilizou-se como recurso principal as fontes
hemerográficas, como os três principais livros de Herculano Moraes aqui já mencionados, revistas da
Academia Piauiense de Letras, e jornais onde ele trabalhou. Fontes visuais também auxiliaram no
trabalho, como entrevistas que o literato concedeu para canais de televisão e fotografias suas
participando de diversos eventos. O recorte espacial da pesquisa abrange predominantemente a cidades
de Teresina, cidade onde Herculano Moraes cresceu, residiu, trabalhou e atuou como literato, embora
se faça referência a São Raimundo Nonato, cidade onde nasceu e viveu, por alguns anos. Outro espaço
situado na pesquisa seria o das Academias que o escritor participava, em especial o da Academia
Piauiense de Letras, que estava sempre a visitar para participar das reuniões. Historiadores e críticos
literários piauienses foram de fundamental importância para se compreender diversidade de leituras e
interpretações sobre o escritor Herculano Moraes e suas produções literárias. Pedro Pio Fontineles
Filho, Francisco Miguel de Moura, Marcus Pierre de Carvalho Baptista ajudaram a entender a
multiplicidade de temas que parecem evocar da figura do autor, bem como de seus livros e ainda o
tempo histórico vivido por ele. Teresinha Queiroz, Francisco Alcides do Nascimento e Paulo
Gutemberg mostraram importância da leitura de um contexto mais amplo, retomando questões e
conceitos como a modernidade das cidades, o fazer literário nas primeiras décadas do século XX, o
que seriam intelectuais, homens de Letras e o Novo dentro da literatura. Assim, o foco desta pesquisa
estaria na concepção de literatura piauiense e das tensões relativas ao espaço do cânone literário dentro
desta.