Esta pesquisa investiga as conexões transnacionais entre Brasil e Chile, tomando como
objeto de análise a revista cultural La Bicicleta, publicada em Santiago do Chile entre
1978 e 1987. Criada por um grupo de jovens chilenos, a revista emergiu como um veículo
de difusão da produção artística e cultural durante a ditadura militar de Augusto Pinochet
(1973-1990), caracterizando-se como um meio de comunicação alternativo que resistiu
às estratégias repressivas do regime. O destaque da revista como fonte desta investigação
reside em sua capacidade de construir uma rede de colaboradores que transcendia as
fronteiras chilenas, envolvendo artistas, intelectuais e exilados chilenos, além de
estabelecer diálogos com produções culturais de outros países latino-americanos,
especialmente o Brasil, a partir da década de 1980. Esse intercâmbio de ideias,
informações e experiências configurou uma experiência transnacional, marcada por
conexões e solidariedades em um contexto de regimes autoritários compartilhados.A
abordagem transnacional orienta esta análise, com foco nas interações culturais e
artísticas que se desenvolveram em meio às ditaduras militares na América Latina.
Inicialmente, o estudo examina os vínculos entre os golpes militares no Cone Sul,
destacando o envolvimento do Brasil no apoio ao golpe chileno de 1973 e na queda do
governo socialista de Salvador Allende. Esse cenário foi marcado pelo fluxo de exilados
brasileiros para o Chile após o golpe de 1964 no Brasil, o que reforçou as conexões entre
os dois países. Em um segundo momento, a pesquisa analisa como, a partir de 1978, a
juventude chilena reorganizou-se e buscou formas de resistência cultural, impulsionada
por uma aparente abertura política decorrente da pressão internacional sobre o regime de
Pinochet. Nesse contexto, surgiram publicações alternativas, como La Bicicleta,
vinculada aos talleres culturales e à Agrupación Cultural Universitaria, que ampliaram
o debate sobre a produção cultural latino-americana, incluindo o Brasil como referência
frequente. A proposta de criação de um cancioneiro latino-americano, presente nas
páginas da revista, exemplifica essa articulação transnacional.Para o desenvolvimento da
pesquisa, são mobilizadas referências teóricas e metodológicas de autores como Idelber
Avelar, Samantha Viz Quadrat, Rodrigo Patto Sá Motta, Maria Helena Capelato, Tania
Regina de Luca, Maria Ligia Prado Coelho, Bárbara Weinstein, Patricia Clavin, Víctor
Muñoz Tamayo, Beatriz Sarlo e Karen Donoso Fritz, entre outros. Priorizam-se
contribuições de pesquisadores latino-americanos, cujos trabalhos oferecem subsídios
fundamentais para a compreensão das dinâmicas culturais e políticas em contextos
ditatoriais. A análise proposta busca, assim, elucidar como a arte e a cultura serviram
como ferramentas de resistência e construção de redes transnacionais em um período
marcado pela repressão e pela busca de solidariedade entre países sob regimes
autoritários.