Neste trabalho, não propomos uma história única ou revanche ao colonizador europeu, como destacado por Ki-Zerbo (2010), ao advertir que tal abordagem apenas “[...] relançaria a história colonialista como um bumerangue contra seus autores [...].” (p. 32). Em vez disso, levantamos como questão de ordem histórica a necessidade de uma reflexão em torno do ensino de história da África nos livros didáticos de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA) distribuídos nas escolas públicas do Brasil pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), a pretexto de analisar as circunstâncias em que se encontra a construção do conhecimento histórico escolar no Ensino Médio, em vista a dar vazão ao lugar epistêmico de produção do saber no ensino de História e na instrução da história da África.
A reflexão está alicerçada no paradigma da afrocentricidade e na abordagem decolonial de compreensão da História. A afrocentricidade, grosso modo, busca trazer à tona as contribuições e perspectivas africanas para a história mundial, destacando o papel central da África e da diáspora africana na construção do mundo global. Ela desafia narrativas eurocêntricas e coloca as experiências e conhecimentos de africanas e africanos no centro da análise histórica (Asante, 2009). Por sua vez, a abordagem decolonial visa decolonizar o conhecimento e os discursos históricos, questionando as estruturas de poder e dominação que sustentam narrativas hegemônicas. Ela procura trazer à luz as vozes e perspectivas historicamente marginalizadas, incluindo aquelas dos povos africanos e afro-brasileiros (Quijano, 2000).
Ao trazer esses paradigmas para a análise do conhecimento histórico e do ensino da história da África nos livros didáticos de CHSA, propomos uma reflexão sobre as abordagens presentes nesses materiais e como elas podem reproduzir ou desafiar narrativas coloniais e eurocêntricas. Isso é importante para promover uma educação que reconheça e valorize as diversas contribuições e experiências históricas dos povos africanos e afrobrasileiros para a Educação Básica.