Este trabalho tem o objetivo de estudar historicamente o modo como as favelas de Teresina, Capital do Estado do Piauí, modificaram a configuração urbana da cidade a partir da década de 1970, propondo novas relações entre seus moradores, o Poder Público e os espaços da Capital piauiense. Os Planos Urbanísticos formulados pelo governo desde o fim dos anos de 1960, como forma de mapear a cidade, foram sintomáticos do esgarçamento da imagem da cidade retilínea e planejada projetada para Teresina desde a sua origem. Com a explosão demográfica e a intensificação do fenômeno das favelas, a urbe é tomada pelas ações dos seus sujeitos ordinários que, na experiência do cotidiano, constroem a cidade. Os documentários experimentais Povo Favela e Pai Herói, produzidos em 1978 e 1980, respectivamente, foram tomados como significativos para olhar a cidade para além daquela dos Planos e mostrar uma outra, muitas vezes invisível ao olhar do Poder Público. Na luta por fincar-se no espaço da Capital, uma teia de relações é estabelecida pelos moradores junto ao Poder Público: estratégias, táticas, composições. O Jornal Alternativa, produzido por moradores, foi um subsídio valioso para o entendimento dessas relações. Por fim, buscou-se compreender as estratégias formuladas no âmbito de políticas públicas, no início dos anos de 1990, que objetivaram a desfavelização da cidade através do mapeamento de espaços urbanos tidos por desordenados e da transmutação desses espaços em bairros e vilas legalmente constituídos. Nos recenseamentos, assim como em projetos municipais, tais como o “Projeto Vila-Bairro”, encontram-se exemplos de estratégias discursivas utilizadas pela gestão pública municipal para cooptar – e assim apagar, ocultando-as sob o manto da legalidade – essas ocupações desordenadas da cidade de Teresina. Teoricamente, o estudo é suportado pela proposição certeuriana de que a cidade corresponde a um empório de estilos, o que nos permite enxergar as cidades invisíveis, expressas nas práticas cotidianas de seus moradores, e perder de vista as cidades visíveis, as quais reluzem ilusoriamente nos cartões postais.