As fronteiras da democracia no Brasil foram modificadas ao longo dos anos, em alguns momentos ela adquiriu contornos peculiares e alcançou novos espaços ou reocupou aqueles que haviam sido cerceados em momentos de contração. Parte da crise política do tempo imediato é tributária do complexo processo de reconstitucionalização do país, uma corrida pelo espaço político-constitucional entre conservadores e progressistas que se confundiram com o poder originário, aquele que provém da participação direta da população. O cenário de redemocratização comportou diversos atores sociais, entre eles, a sociedade civil que se organizou para debater, influenciar e fiscalizar o projeto que se tornou a Constituição de 1988. Procuramos apresentar a percepção do processo de reconstitucionalização pelo viés das perspectivas e anseios da população. O que eles diziam entender e o que almejavam ou acreditavam que aconteceria com a promulgação de uma nova carta constitucional. Nossas principais fontes foram cartas enviadas à Assembleia Nacional Constituinte por piauienses por meio do projeto Diga Gente- Projeto Constituição, entre os anos de 1986 e 1987, pois as consideramos como espaço privilegiado para ter contato com as perspectivas da sociedade civil apresentou no período. Como o ato de redigir opiniões políticas em formato de cartas não pode ser dissociado do contexto econômico, civil e social do país, buscamos discutir, de maneira geral outras formas de participação criadas pela sociedade civil em torno da Constituinte e os temas conexos a ela entre 1986 e 1987. O uso de fontes imagéticas, fílmicas e hemerográfica nos auxiliou na análise de como estes espaços de debate e fiscalização foram construídos. O recorte espacial escolhido foi o Piauí, onde almejamos compreender as contribuições do estado em um movimento que se configurou de maneira nacional, no sentido de que cada região contribuiu para amalgamar a transfiguração ou as permanências do sistema político do país. O aporte teórico utilizado compreende as considerações de Victor Vincent Valla (1998) a respeito de participação popular, Jean Jacques Becker (2003) sobre a opinião pública, o conceito de cultura política trabalhado por Serge Berstein (2003), No que se refere a análise das cartas nos baseamos nas considerações de Ângela de Castro Gomes (2004), Maria Helena Versiani (2013) e Stéphane Monclaire (1991). A metodologia de análise qualitativa aplicada à pesquisa incidiu na escolha dos materiais analisados, além das cartas-formulário, nossas principais fontes, utilizamos os jornais O dia e Alternativa.