A cidade de Picos-PI, localizada em uma área que cruza e interliga diferentes regiões brasileiras, alterou significativamente a sua estrutura populacional e territorial durante as décadas de 1980 e 1990, mesmo com o desmembramento dos diversos municípios que se tornaram cidades independentes. Entretanto, a referida urbe deixava a desejar no que concerne a execução de serviços essenciais de limpeza pública que deveriam ser garantidos à população. Tal fato contribuía não apenas para a construção de uma imagem negativa da cidade, mas também para o aparecimento de endemias que afetavam diretamente a saúde de seus habitantes. Por esta razão, a presente pesquisa discorre sobre o viver citadino em Picos-PI nas décadas supracitadas, através das memórias olfativas. Entendemos que este estudo se faz necessário pelo fato de que a cidade, além de simbólica e comunicativa, é também o espaço dos cheiros e odores, esses que sendo fáceis de serem identificados, se tornam marcadores da identidade urbana. O desenvolvimento da pesquisa foi baseado em diferentes tipos de fontes, que incluíram: entrevistas orais, jornais locais e estaduais (Macambira, Jornal de Picos, Tribuna de Picos, O Dia, O Liberal e O Estado), revistas (Foco e Momento Informativo), fotografias, charges, poesias e o código municipal de posturas. A análise destas fontes e as discussões presentes no trabalho contaram com o referencial teórico de diversos autores, entre eles: Raquel Rolnik (1995, Ana Fani Carlos (2007), Sandra Pesavento (2007), Michel de Certeau (2008) e Roberto Corrêa (2007) para as questões de cidades; Alain Corbin (1987), Milena Kanashiro (2003), Palmira Ribeiro e Nadja Santos (2018), Bettina Malnic (2008), Chandler Burr (2006) e João Scortecci (2019) para as questões das percepções sensoriais; Ecléa Bosi (2003), Peter Burke (2000), Michael Pollak (1989), Maurice Halbwachs (2006), Jacy Seixas (2004), Márcio Silva (2008) e Francisco Nascimento (2002) para as discussões de memória; Sônia Freitas (2006), Cléria Botelho da Costa (2014) e José Carlos Meihy (1996) para as compreensões acerca da história oral e Roger Chartier (1990) para o entendimento sobre as práticas de representações. O estudo identificou como se caracterizava o espaço urbano picoense deste período em seus aspectos físicos, sociais e políticos e, para isso discutiu-se acerca da pouca preocupação demonstrada pelos governantes municipais tanto para com a imagem olfativa que se construiria interna e externamente da cidade, quanto pelo bem-estar de sua gente. Também apontou as representações sensíveis e mapeou olfativamente determinados ambientes públicos e privados situados na zona urbana da cidade.