A síndrome respiratória aguda (SRA), também conhecida como síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) é definida como uma inflamação da membrana alvéolo-capilar. Está relacionada a alguns fatores de risco que podem desencadear lesão pulmonar por mecanismos diretos, como aspiração de conteúdo gástrico, pneumonia, lesão inalatória e contusão pulmonar; ou indiretamente, como sepse, trauma e pancreatite. Danos aos alvéolos e ao endotélio capilar resultam em uma resposta inflamatória intensa, que se dá através da ativação de macrófagos alveolares, células que atuam liberando TNF-alfa e interleucinas 1, 6 e 8. Esses mediadores atraem neutrófilos que liberam proteases e espécies reativas do oxigênio (EROs) que amplificam o processo inflamatório. A lesão da SRA também pode ser induzida por isquemia e reperfusão. A isquemia é uma condição na qual o fluxo sanguíneo rico em oxigênio é interrompido para um determinado órgão ou tecido, prejudicando sua oxigenação celular durante a fase de reoxigenação resultante da reperfusão intestinal. As citocinas são responsabilizadas por danos a órgãos distantes devido à lesão por isquemia e reperfusão. Relatou-se que os níveis plasmáticos do fator de necrose tumoral (TNF-alfa), interleucina-1 (IL-1) e IL-6 são elevados em tecido renal e pulmonar após isquemia em membro posterior. O papel da resposta inflamatória na SRA é bem estabelecido, contudo o emprego de corticoides nessa síndrome é envolta de controvérsias. Embora o tratamento farmacológico atual para a SRA melhore a qualidade de vida e reduza a frequência de exacerbações agudas, não previne a progressão da doença nem reduz a mortalidade, assim há necessidade de estudos de novos fármacos para tratar esta doença. A literatura demonstra que constituintes de plantas medicinais podem servir como opções para o tratamento do SRA. O ferulato de etila, é um composto fenólico, da classe dos fenilpropanoides, e derivado do ácido ferúlico, que possui atividades anti-inflamatória e antioxidante, sendo encontrado em várias espécies vegetais. O (E)-3-(3- metoxifenil) acrilato de pentila (GIR-3) é uma substância obtida em laboratório, e derivada do ferulato do etila. Por ser uma substância inovadora não há estudos in sílico e in vivo do potencial do GIR3 na modulação de doenças pulmonares de base inflamatória, tal como o enfisema pulmonar ou SRA. Portanto, o objetivo deste estudo foi investigar o potencial antioxidante in sílico e in vivo do (E) -3-(3- metoxifenil) acrilato de pentila sobre as alterações causadas pelo síndrome respiratória aguda induzido por modelo de isquemia e reperfusão intestinal (iI/R) em Rattus norvegicus. Foi realizado um estudo in sílico através de uma ancoragem molecular para avaliar o efeito anti-inflamatório de GIR3 prevendo a afinidade de ligação e verificando as interações intermoleculares com alguns alvos moleculares. A obtenção do GIR3 ficou sob a responsabilidade do professor Dr. Damião Pergentino de Sousa, do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal da Paraíba. Para o protocolo do modelo da síndrome respiratória aguda experimental foram utilizados ratos Wistar machos de 8 semanas e pesando em média 200g obtidos mediante aprovação do Comitê de Ética no Uso de Animais (Nº 773/2023). A síndrome respiratória aguda foi induzida através
do modelo de isquemia/reperfusão intestinal (iI/R), precedido pelo pré-tratamento com salina (sham), GIR3 (0,2, 0,4 e 0,6 mg/kg, v.o.) ou dexametasona (10 mg/kg, v.o.) (controle positivo) e um controle negativo (indução do modelo e sem tratamento) em Rattus norvegicus. No mesmo dia após a indução do protocolo os animais foram eutanasiados para a obtenção do lavado broncoalveolar (LBA), usado para dosagem de citocinas, contagem total e diferencial de leucócitos e dosagem de estresse oxidativo tecidual, e dos pulmões onde foram confeccionadas lâminas para análise histopatológica. Todos os dados foram submetidos a análise de normalidade e em seguida tratados por análise de variância e pós-teste de Tukey, o valor de p< 0,05 foi considerado significativo. De acordo com o estudo in sílico observou-se que a molécula teste GIR3 apresentou afinidade menor (-8.161 kcal/mol) para a enzima catalase em comparação com o 3-amino-1,2,4-triazol (-4.439 kcal/mol). Notou-se que a molécula teste GIR3 apresentou afinidade menor energia livre de ligação (-7.016 kcal/mol) para a enzima glutationa reduzida (- 6.806 kcal/mol). O GIR3 apresentou afinidade menor energia livre de ligação (-5.711kacl/mol) para a enzima nitrito (-5.984 kcal/mol). Os resultados in vivo mostraram que houve redução significativa (p<0,05) da inflamação neutrofílica nos pulmões de ratos tratados com GIR3, evidenciada pela contagem de células no lavado broncoalveolar. GIR3 também exibiu atividade antioxidante pulmonar, com a diminuição significativa (p<0,05) na atividade mieloperoxidase, malondialdeído, nitrito, catalase e glutationa reduzida. As dosagens de TNF-α, IL-1β e IL-6 e o dano alveolar, foram significativamente reduzidas nos animais tratados com o GIR3. Em suma, os resultados deste estudo demonstram que o GIR3 possui atividade anti-inflamatória tanto em estudos in sílico como in vivo em modelo de isquemia/reperfusão intestinal em Rattus novergicus. Esta é a primeira demonstração que GIR3 reduz os níveis de EROs, citocinas e danos alveolares no modelo de síndrome respiratória aguda por iI/R, abrindo perspectiva na utilização desta substância no tratamento da síndrome respiratória aguda.