O trato gastrointestinal (TGI) atua de forma coordenada na digestão e absorção de nutrientes. A doença de Crohn é uma das formas mais comuns de doença inflamatória intestinal (DII). O nervo vago, além de regular funções gastrointestinais, conecta-se ao sistema imunológico por meio de fibras aferentes que detectam inflamações periféricas e ativam reflexos com efeito anti-inflamatório. A interrupção desse eixo, como na vagotomia, prejudica os reflexos parassimpáticos e pode agravar a inflamação nas DII. OBJETIVO: Investigar os efeitos da vagotomia subdiafragmática na função gastrointestinal, nos parâmetros autonômicos e no estresse oxidativo em animais controles e em modelo experimental de Doença de Crohn. METODOLOGIA: Ratos Wistar machos (n = 5-10/grupo), 260-300g, divididos em Controle, Vagotomia subdiafragmática (VGX), Crohn e VGX+Crohn. Vagotomia troncular subdiafragmática foi realizada por meio de secção dos troncos vagais anteriores e posteriores do esofágico, a (1,0–1,5 cm) acima da cárdia. A doença de Crohn foi induzida por injeção intraileal de TNBS. Após 7 dias da produção cirúrgica, avaliamos a motilidade gástrica, a função cardíaca (ECG), a composição corporal e o estresse oxidativo em todos os grupos. RESULTADOS: A VGX reduziu (p< 0,05) o Δ do peso corporal em comparação ao Controle (18 ± 2,9 vs. -9,5 ± 7,4g). VGX+Crohn atenuou a perda de peso em comparação com a doença de Crohn (-0,7±0,4 vs. -19,8±2,9 g). Na composição corporal, foi observado um aumento (p<0,05) na água corporal total (46,3±2,1 vs. 34,7±4,1%), fluido extracelular (46,8±0,4 vs. 35,2±3,9%), massa livre de gordura (63,2±2,9 vs. 47,4±5,6%) e IMC entre VGX e Controle. VGX aumentou (p<0,05) a retenção gástrica (42,4±2,8 vs. 29,0±2,7%) e a retenção duodenal (36,9±2,7 vs. 24,8±1,5%) em comparação ao Controle. VGX+Crohn aumentou (p<0,05) a retenção no íleo em comparação com grupo Crohn (28,4±5,9 vs. 14,0±0,8%). O componente LF da variabilidade da frequência cardíaca aumentou (p<0,05) no grupo VGX (18,12±0,4 vs. 24,4±2,07%), e houve uma redução na razão LF/HF (0,32±0,03 vs. 0,70±0,10%) em comparação com Controle. No ECG, VGX+Crohn diminuiu (p<0,05) a frequência cardíaca (315,4±7,22 vs. 368,6±8,13 bpm) e aumentou o intervalo R-R (0,188±0,00 vs. 0,164±0,003 s) em comparação com grupo Crohn. A temperatura do tecido adiposo marrom foi menor (p<0,05) no grupo VGX do que no grupo Controle. O VGX aumentou (p<0,05) as concentrações de Nox (289,3±8,2μM vs. 189,6±13,9μM) e MPO (7,7±2,13 vs. 3,7±0,7U/mg) no íleo, enquanto diminuiu (p<0,05) a GSH (18,1±0,7 vs. 22,0±1,7NPSH/mg). CONCLUSÃO: A vagotomia subdiafragmática reduziu peso corporal, alterou composição, retardou o esvaziamento, promoveu disfunções autonômicas, afetou o peso de órgãos, reduziu a temperatura corporal e aumentou o estresse oxidativo em tecidos intestinais e adiposos. Em modelo de Crohn, atenuou a perda de peso, mas agravou a inflamação e a retenção no íleo.