RESUMO
A asma é uma doença inflamatória crônica que afeta milhares de pessoas. Os tratamentos disponíveis buscam reduzir a inflamação e a hiperreatividade das vias aéreas, mas são frequentemente associados a efeitos adversos, limitando sua adesão a longo prazo. A espécie Combretum leprosum Mart., pertence à família Combretaceae, é conhecida popularmente como “mofumbo” e é utilizada na medicina popular para o tratamento de várias doenças, como a asma. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi investigar a toxicidade aguda do extrato etanólico obtido das cascas do caule de C. leprosum (Cl-EtOH) em larvas de Zophobas morio e seus efeitos em um modelo de asma alérgica induzida por ovalbumina (OVA) em ratos. Todos os protocolos foram aprovados pelo CEUA/UFPI (Registro 783/2023). Na avaliação da toxicidade aguda em larvas de Z. morio, o Cl-EtOH demonstrou boa segurança dentro da faixa de doses testadas (3, 30, 300 e 3.000 mg/kg), com DL50 estimada em 7.295 mg/kg. Além disso, as diferentes doses do Cl-EtOH não induziram melanização significativa nas larvas quando comparadas às do grupo salina, reforçando sua segurança. A atividade espasmolítica foi avaliada em traqueia de ratos não asmáticos e em ratos submetidos a um modelo de asma alérgica induzida por OVA. O Cl-EtOH exibiu efeito espasmolítico in vitro, de forma dependente de concentração, em traqueias de ratos não asmáticos previamente contraídas com carbacol (CCh) 10-6 M ou KCl 60 mM, demonstrando equipotência relaxante em ambos os estímulos contráteis. Na presença de CsCl 5 mM, a curva de relaxamento induzida pelo Cl-EtOH foi deslocada para a direita, com redução da potência farmacológica e do efeito máximo (Emax). O Cl-EtOH também relaxou as traqueias de ratos asmáticos previamente contraídas com CCh 10-6 M, com redução da potência farmacológica e Emax em comparação aos animais não asmáticos. Para avaliar o efeito do tratamento com Cl-EtOH em ratos asmáticos, os animais foram divididos em grupos: não asmático (GNA), asmático (GA), tratados com dexametasona 1mg/kg/dia por via oral (v.o.) (GA/DEXA), ou com Cl-EtOH nas doses de 50 (GA/Cl-EtOH 50), 100 (GA/Cl-EtOH 100) ou 150 mg/kg/dia, v.o. (GA/Cl-EtOH 150), durante 7 dias. Os animais do GA apresentaram maior reatividade traqueal quando comparados ao GNA, sendo essa resposta atenuada pela dexametasona e pelas diferentes doses do Cl-EtOH. Observou-se perda de peso apenas nos animais no tratamento do GA/DEXA. Não foi constatada diferença nos níveis de transaminase glutâmico-oxalacética (TGO) em relação ao GNA, na transaminase glutâmico-pirúvica (TGP) observou-se aumento significativo nos animais GA/DEXA, indicando possível sobrecarga hepática. No GA, foi constatado aumento da contagem total e diferencial de leucócitos em relação ao GNA. O tratamento com dexametasona ou Cl-EtOH (100 e 150 mg/kg) reduziu significativamente a contagem total de leucócitos, assim como linfócitos e neutrófilos na contagem diferencial. Em todas as doses testadas, houve redução de eosinófilos, evidenciando a capacidade anti-inflamatória do Cl-EtOH. O tratamento com dexametasona ou Cl-EtOH nas diferentes doses reduziu as concentrações de nitrito e malondialdeído (MDA), e restaurou as concentrações de glutationa reduzida (GSH) na dose de 150 mg/kg, demonstrando efeito antioxidante. No GA, foram observadas alterações morfológicas no tecido pulmonar (aumento da camada de músculo liso, espessamento da camada epitelial e espessamento da parede alveolar). O tratamento com dexametasona ou Cl-EtOH na dose de 150 mg/kg preveniu essas alterações. Dessa forma, o Cl-EtOH demonstrou efeito espasmolítico em traqueia de ratos asmáticos e não asmáticos, provavelmente pela ativação de canais de K+. O tratamento com Cl-EtOH reduziu a reatividade traqueal, apresentou efeitos anti-inflamatório e antioxidante e preveniu o remodelamento pulmonar.