O presente trabalho, desenvolvido no âmbito do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), investiga como artistas visuais do litoral piauiense se relacionam com o patrimônio artístico e cultural do território em que vivem e produzem, considerando modos de criação, sentidos de pertencimento, identidade cultural e desafios de visibilidade. O litoral do Piauí, formado pelos municípios de Parnaíba, Luís Correia, Ilha Grande e Cajueiro da Praia, apresenta uma expressiva diversidade ambiental e cultural, mas sofre pressões do turismo massivo, especulação imobiliária e gentrificação, ameaçando práticas e memórias comunitárias. A pesquisa fundamentou-se nos princípios da Nova Museologia (Desvallées; Mairesse, 2013; Varine, 2008; Cury, 2013) e na concepção ampliada de patrimônio cultural (UNESCO, 2006), incorporando saberes, práticas e referências simbólicas como elementos centrais de identidade. Como objetivo geral, buscou-se investigar como esses artistas constroem suas relações com o patrimônio cultural local, considerando seus modos de produção, sentidos de pertencimento, identidade cultural e os desafios de reconhecimento institucional. Especificamente, pretendeu-se compreender a construção de sentidos e significados a partir das vivências e práticas cotidianas dos artistas; desenvolver ações colaborativas que articulassem arte, território e patrimônio, resultando na exposição “À Deriva – Uma Experiência Sensorial e Imersiva” e no documentário “Artistas do Mar”; e refletir sobre as possibilidades de valorização do patrimônio artístico-cultural por meio da mediação simbólica das artes visuais. Metodologicamente, adotou-se abordagem qualitativa e pesquisa-ação (Thiollent, 2006), articulando entrevistas semiestruturadas com a realização das ações supracitadas. Foram selecionados sete artistas considerando diversidade de linguagens (pintura, escultura, grafite, artesanato), vínculos territoriais e atuação comunitária. Os resultados apontam que suas obras incorporam elementos naturais, memórias e práticas cotidianas do litoral, transformando-os em narrativas visuais que funcionam como resistência simbólica e fortalecimento identitário. As ações ampliaram a visibilidade desses criadores, fomentaram a participação comunitária e reafirmaram o papel da arte popular como instrumento legítimo de preservação e ressignificação cultural. Conclui-se que reconhecer e valorizar essas manifestações requer políticas públicas sensíveis às particularidades locais, bem como a consolidação de estratégias museológicas participativas e comunitárias. A pesquisa evidencia que a arte, quando tratada como patrimônio vivo, transcende o valor estético, atuando como mediadora de memórias, afetos e transformações sociais, fortalecendo a diversidade cultural como valor essencial.